Descoberta muda o que sabemos sobre origem do Homo sapiens

Ao contrário do que se pensa, os humanos modernos não evoluíram de um ancestral comum. Os Homo sapiens, na verdade, cruzaram com diversas espécies de hominídeos antigos para dar origem às pessoas que somos hoje. Um novo estudo sequenciou o genoma de uma linhagem extinta e descobriu que nossos ancestrais acasalaram com pelo menos três espécies de Denisovanos.

A descoberta explica características adaptativas e genes de algumas populações ao redor do mundo.

Artefatos recuperados da Caverna Denisova (Imagem: OlgaMed/Shutterstock.com)

Origem do Homo sapiens não é única

A autora do estudo, Dra. Linda Ongaro, explicou que é um equívoco frequente pensar que os humanos evoluíram de apenas um ancestral comum. No entanto, os Homo sapiens modernos (como nós) tiveram origem a partir de diferentes cruzamentos entre hominídeos.

Um desses hominídeos são os Denisovanos. Eles ficaram conhecidos em 2010, quando um único osso de dedo encontrado na Caverna Denisova, nas Montanhas Altai, na Sibéria, permitiu o sequenciamento do genoma.

Antes disso, a ciência acreditava que apenas algumas populações humanas carregavam genes denisovanos, de no máximo 5%, como os habitantes de Papua-Nova Guiné. Posteriormente, outras pesquisas identificaram relações com o material genético denisovano em habitantes do leste e sul asiáticos, e indígenas americanos.

Até então, a teoria era de que encontros pontuais entre Homo sapiens e Denisovanos tinham causado a troca de genes. Um estudo publicado no início deste mês na revista Nature revelou que, na verdade, podem ter sido vários encontros – e entre mais de uma espécie de Denisovanos.

Pontos de encontro entre Homo sapiens e Denisovanos, segundo o estudo (Imagem: Nature/Reprodução)

Humanos modernos têm herança de Denisovanos

Ongaro explicou que, ao contrário de restos mortais de Neandertais, os Denisovanos têm poucos registros fósseis que podem ser analisados. Basicamente, apenas o osso do dedo, um maxilar, um dente e alguns fragmentos de crânio.

A pesquisa analisou traços denisovanos no genoma dos Homo sapiens modernos e descobriu pelo menos três eventos passados nos quais o cruzamento pode ter acontecido. Segundo o estudo, os Denisovanos originais começaram a se fragmentar em diferentes linhagens e espécies há cerca de 409 mil e 222 mil anos. Enquanto a população mais antiga desse grupo pode ter cruzado com os ancestrais asiáticos, outras duas espécies dissidentes podem ter se encontrado com habitantes da Papua-Nova Guiné.

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Esses encontros podem ter influenciado a origem e as capacidades de adaptação dos humanos modernos. Entenda:

  • De acordo com o IFLScience, como esse povo antigo e extinto já haviam chegado à Eurásia antes dos Homo sapiens, eles já tinham mecanismos de adaptação mais robustos, que permitiram a sobrevivência em ambientes de alta altitude e gelados;
  • Com o cruzamento, essas características foram passadas para os humanos antigos, como a capacidade de sobreviver em situações com baixo oxigênio, comum entre população tibetanos;
  • Um exemplo é o gene EPAS1, presente em algumas populações asiáticas orientais e que remonta aos Denisovanos;
  • Outro é o haplótipo TBX15/WARS2, uma adaptação genética que impacta a maneira como o corpo decompõe gordura e beneficia populações que vivem em ambientes gelados.

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