Biólogo brasileiro participará de missão da NASA; saiba qual

O biólogo paulistano Alysson Muotri, professor e chefe de um laboratório de pesquisa na Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) (EUA) vai participar de missão da NASA no fim de 2025.

Muotri vai ao Espaço com quatro astronautas a bordo do foguete Falcon 9, da SpaceX, rumo à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). Lá, o biólogo brasileiro vai estudar o impacto da microgravidade no cérebro com a ajuda de “mini-cérebros” produzidos em seu laboratório.

O que são os mini-cérebros?

  • Os mini-cérebros são organoides cerebrais que imitam desenvolvimento e funções cerebrais, ou seja, simulam as funções de cérebros de bebês;
  • Eles já foram enviados ao Espaço uma vez, em 2019. Contudo, não havia um cientista que pudesse estudá-lo na ISS;
  • Esses organismos são desenvolvidos a partir de células-tronco pluripotentes induzidas (IPS) e podem ajudar os cientistas a entender como certas condições neurológicas ocorrem, bem como o envelhecimento cerebral e os efeitos de medicamentos sobre o cérebro e possuem cerca de 5 mm;
  • Ainda, alguns dos mini cérebros que serão estudados por Alysson Muotri na ISS foram desenvolvidos a partir de células originadas de crianças autistas, o que permitirá a observação sobre os impactos do autismo na estrutura e desenvolvimento cerebral.
Biólogo segurando dois crânios
Biólogo sugeriu envio de especialistas à NASA (Imagem: Divulgação)

Mais sobre o biólogo brasileiro

Alysson Muotri é formado em Ciências Biológicas pela Unicamp e tem doutorado pela USP. Em 2008, ele criou o Muotri Lab na UCSD, um dos centros de referência mundial em estudos com o cérebro humano na atualidade.

O laboratório recebe recursos do Estado da Califórnia e do National Institutes of Health (NIH), que se equivale ao nosso CNPq, além de financiamento de empresas privadas e dinheiro de filantropia de fundações na área médica.

Uma das linhas de pesquisa do Muotri Lab, iniciada em 2017, quer desenvolver aplicações em inteligência artificial (IA) com base na chamada inteligência orgânica. A Microsoft, que visa expandir suas ferramentas de IA, financiou parte do estudo.

À revista O Biólogo, Muotri explicou que suas pesquisas nesta área visam fazer a IA “aprender sozinha” da mesma forma que nosso cérebro, uma vez que, atualmente, as IAs conseguem processar grandes volumes de dados, mas não têm nosso “aprendizado inato”.

Outro exemplo: um veículo autônomo precisa passar por vários treinamentos para identificar o máximo de itens possíveis distintos de veículos, como bolas, pessoas, animais, etc. Quem faz isso, claro, é a IA. O problema é que a tecnologia não consegue distinguir direito algo concreto de uma foto, por exemplo.

Diferentemente de uma criança, que é capaz de identificar cães intuitivamente logo após ser apresentada a dois ou três desses animais. Ou, ainda, um bebê, que aprende um idioma sem ser formalmente ensinado, apenas observando as pessoas ao seu redor.

Ele identifica nuances do discurso, mensagens subliminares advindas do tom de voz, expressões corporais e outros gestos mais sutis que a IA ainda não consegue compreender.

Ao O Globo, Muotri disse que sugeriu à NASA que treinassem seus astronautas para realizarem experimentos no Espaço. “Mas, logo nos primeiros dias, perceberam que não daria para fazerem isso sozinhos. Daí surgiu o pensamento inverso: ‘por que não enviamos o próprio pesquisador e treinamos eles para ir com os astronautas?’”, salientou.

O biólogo também alega que um dos desafios para a missão foi redesenhar os equipamentos para operarem em ambiente com gravidade zero, já que eles podem flutuar no Espaço.

“Outro desafio é a logística de como vamos enviar as informações para a Terra durante a pesquisa, como a equipe vai receber essas mensagens. O treinamento pessoal, como a preparação física, o treinamento de segurança e como agir na cápsula, começará seis meses antes da data marcada da viagem”, continuou.

Culturas de minicérebros
Mini-cérebros têm cerca de 5 milímetros e são desenvolvidos a partir de células-tronco pluripotentes induzidas (Imagem: Divulgação)

Construímos eles em laboratório porque recapitulam as fases iniciais do desenvolvimento humano. Ou seja, conseguem reproduzir o estágio fetal e pós-natal. Alguns deles reproduzem cérebros com transtorno do espectro autista, o que nos permite estudar essa condição. Nesse caso, usamos derivados de células de pessoas autistas, que carregam mutações.

Outro detalhe importante que vamos avaliar é o envelhecimento dessas estruturas. Ele vai nos permitir estudar não só cérebros de bebês como de crianças mais velhas, já que envelhecem rapidamente. E poderemos analisar com atenção esse processo enquanto ele acontece no espaço de forma acelerada. Ter a intervenção humana nesse momento será importante.

Devo também levar substâncias experimentais para aplicar nos “mini-cérebros”. Entre elas, moléculas do chá de ayahuasca e de guaraná, que são neuroativas.

Alysson Muotri, biólogo, professor e chefe de um laboratório de pesquisa na Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), em entrevista ao O Globo

Por fim, o biólogo diz que nunca sonhou em ser astronauta, mesmo gostando de livros de ficção e de filmes de astronomia, “mas jamais planejei isso na minha carreira”.

“Mas digo que, se a resposta para tratamentos com “mini-cérebros” estivesse no fundo do mar, eu treinaria para ser mergulhador. São anos de trabalho que culminam nas próximas etapas. Exploramos ao máximo o que poderia ser feito e, agora, estamos procurando novas respostas. Acredito, também, que essa missão será transformadora porque vai abrir a Estação Espacial para cientistas do mundo todo”, concluiu.

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