A emissão de radiação dos mais de 6,3 mil satélites da Starlink, a empresa de internet da SpaceX e de Elon Musk, está atrapalhando a ação de radiotelescópios ao “cegá-los”, além de atrapalhar os astrônomos que trabalham neles.
A conclusão é de um estudo liderado pelo Instituto Holandês de Radioastronomia (Astron), que alerta para um possível “apagão astronômico“, já que afetam diretamente como os telescópios analisam o Espaço.
Dos mais de 6,3 mil satélites da Starlink, mais da metade deles está em órbita. Um terço é de modelos mais recentes e mais “brilhantes”. São eles que atrapalham os equipamentos astronômicos.
Segundo a DW, o “ruído” provocado pelos “brinquedinhos” de Elon Musk é chamado de radiação eletromagnética não intencional (UEMR, na sigla em inglês), mas não é gerado somente pelos satélites da Starlink, mas, também, por outros equipamentos de empresas que atuam no Espaço. Eles também provêm internet para a Terra, especialmente para lugares remotos e sem condições de receber internet terrestre.
Os cientistas que realizaram a pesquisa explicaram que a radiação que os satélites de segunda geração da Starlink causam interferência 32 vezes acima da gerada pelos equipamentos da primeira geração.
Interferência já aconteceu antes
- Os satélites mais antigos da empresa, que seguem sendo a maioria em órbita, estiveram sob escrutínio em 2022, quando foi detectado que a UEMR deles estava atrapalhando pesquisas astronômicas;
- O cientista do Instituto Max Planck de Radioastronomia que contribuiu para o estudo, Benjamin Winkel, afirma que a interferência está, literalmente, “cegando” os equipamentos e impedindo o trabalho dos cientistas;
- Winkel diz que, “embora os satélites da geração 1 tenham, de fato, ficado mais escuros no último ano – então a Starlink realmente fez algo com eles [para reduzir os vazamentos de radiação] –, a nova geração, infelizmente, parece estar mais brilhante novamente”.
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O que a radiação em excesso causa aos telescópios?
“Quando dizemos ‘cego’, significa que seu olho capta muita luz para que você possa ver alguma coisa, está ficando saturado. Isso é exatamente o que acontece com nossos radiotelescópios”, explica Winkel.
“Se a potência de entrada de algum sinal artificial for muito maior do que o que queremos observar do céu, não há como detectar ou analisar esse sinal minúsculo em meio a uma enorme quantidade de ruído que é gerado pela [atividade] humana”, prosseguiu.
Além disso, a Aston está preocupada com a quantidade de satélites em órbita, não só da Starlink. Até o fim desta década, poderemos ter 100 mil. Atualmente, os satélites da Starlink já são visíveis no céu noturno a olho nu.
Com um aumento de nove vezes a frota atual de satélites em órbita de baixa altitude de todas as operadoras, significa que os astrônomos que operam com telescópios ópticos e de rádio poderão até ter seu trabalho interrompido.
“Meus colegas me disseram que estão realmente assustados com o futuro. Deveria haver algumas melhorias se eles realmente quiserem observar de forma adequada”, observou Winkel.
Além desses altos níveis advindos desses equipamentos, há, ainda, a interferência que chega de outras fontes de radiação antropogênica em terra, tais como celulares e torres de transmissão, com potencial para reduzir a sensibilidade dos radiotelescópios em certas situações.
Mas, além dos radiotelescópios, os grandes telescópios ópticos também são afetados, mesmo operando com o espectro de luz visível. Isso porque a gigantesca quantidade de satélites em órbita pode refletir luz em direção aos equipamentos.
Dessa forma, podem aparecer “manchas” de luz nas imagens que eles captam, pois vazamentos de luz nem sempre podem ser removidos, provocando perdas vitais de observação.
Evitando um apagão astronômico
As emissões de radiação na Terra são controladas por órgãos reguladores, como a União Internacional de Telecomunicações. Mas, no Espaço, não há muitas regulações para as operadoras de satélites, fazendo com que os pesquisadores dependam da criação de interações de boa-fé com empresas que atuam além de nossa atmosfera.
Algumas empresas estão dispostas a ajudar nesse sentido, incluindo a Starlink, que já mexeu em sua primeira frota visando reduzir o ruído de rádio. Em agosto, a SpaceX disse, em comunicado, que vai seguir com seus esforços para desviar as emissões de rádio da linha de visão do telescópio, além de que “mantém convite aberto a outras organizações de radioastronomia de todo o mundo para implementar a abordagem para proteger sua importante pesquisa científica”.
A DW tentou falar com a SpaceX para tratar da frota de segunda geração, mas não obteve resposta.
Além da Starlink, a OneWeb, com cerca de 630 satélites, também vem dificultando para os telescópios. O projeto Kuiper, da Amazon, está com dois equipamentos em órbita, mas tem grandes planos de expansão.
O estudo foi publicado na Astronomy & Astrophysics.
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